Brevemito Gulamo jamal 20.10.2017
Como funciona o motor de corrente contínua
(ART476)
Este artigo é de grande utilidade para todos
que utilizam pequenos motores, principalmente os projetistas mecatrônicos. Como
o artigo é teórico, usando uma linguagem simples e acessível, recomendamos sua
utilização em cursos de iniciação tecnológica para o nível fundamental e médio
e mesmo técnico. Uma boa apostila pode ser feita com base no seu conteúdo.
Introdução
Para usar ou recuperar motores de corrente
contínua é preciso conhecer o seu princípio de funcionamento. Neste artigo
(destinado aos leitores que desejam entrar mais profundamente na eletrônica)
sempre abordamos o princípio de funcionamento de diversos dispositivos
eletrônicos que normalmente aparecem em aparelhos comerciais comuns. Um desses
dispositivos não é propriamente eletrônico, mas aparece numa infinidade de
aplicações e é controlado a partir da eletrônica. Falamos dos pequenos motores
de corrente contínua que são encontrados em gravadores, brinquedos, câmaras de
vídeo, aparelhos de som, etc. Como funcionam os motores de corrente contínua é
o que veremos neste artigo.
Diversos aparelhos eletrônicos possuem
recursos mecânicos que são mais ou menos automatizados e quando isso ocorre,
obrigatoriamente temos a presença de um ou mais motores de corrente contínua.
Motores com os mais diversos aspectos,
potências e tamanhos são encontrados nos aparelhos que já citamos.
Se bem que sejam muito diferentes quanto à
aparência, conforme sugere a figura 1, seus princípios de funcionamento em nada
diferem e conseqüentemente os problemas que podem apresentar.
Alguns tipos de motores de corrente contínua.
Alguns tipos de motores de corrente contínua.
Desta forma, conhecendo estes defeitos e estes
princípios de funcionamento entenderemos muito mais os procedimentos para
detectar problemas dos aparelhos que os usem e fazer sua reparação.
COMO FUNCIONAM OS MOTORES
Os motores de corrente contínua (CC) ou
motores DC (Direct Current), como também são chamados, são dispositivos que
operam aproveitando as forças de atração e repulsão geradas por eletroímãs e
imãs permanentes.
Conforme sabemos, se fizermos passar correntes
elétricas por duas bobinas próximas, conforme mostra a figura 2, os campos
magnéticos criados poderão fazer com que surjam forças de atração ou repulsão.
Atração e repulsão de bobinas e ímãs.
A idéia básica de um motor é montar uma bobina
entre os pólos de um imã permanente ou então de uma bobina fixa que funcione
como tal, conforme mostra a figura 3.
Estrutura de um motor.
Estrutura de um motor.
Partindo então da posição inicial, em que os
pólos da bobina móvel (rotor), ao ser percorrida por uma corrente, estão
alinhados com o imã permanente temos a manifestação de uma força de repulsão.
Esta força de repulsão faz o conjunto móvel mudar de posição, conforme mostra a
figura 4.
Com a repulsão o rotor tende a girar.
Com a repulsão o rotor tende a girar.
A tendência do rotor é dar meia volta para seu
pólo Norte se aproxime do pólo Sul do imã permanente. Da mesma forma, seu pólo
Sul se aproximará do pólo Norte pelo qual será atraído.
No entanto, no eixo do rotor, por onde passa a
corrente que circula pela bobina, existe um comutador. A finalidade deste
comutador é inverter o sentido da circulação da corrente na bobina, fazendo com
que os pólo mudem. Observe a figura 5.
Com a inversão de polaridade os pólos do rotor
mudam.
Com a inversão de polaridade os pólos do rotor
mudam.
O resultado disso será uma transformação da
força de atração em repulsão, o que fará com que o rotor continue seu
movimento, passando "direto" pela posição que seria de equilíbrio.
Sua nova posição de equilíbrio seria obtida
com mais volta, de modo que os pólos do rotor se defrontassem com os de nome
oposto do imã fixa.
Mais meia volta, e quando isso poderia
ocorrer, a nova posição faz com que o comutador entre em ação e temos nova
comutação da corrente. Com isso os pólos se invertem conforme mostra a figura
6.
Mais de meia volta temos nova inversão de
pólos.
Mais de meia volta temos nova inversão de
pólos.
O resultado disso é que o rotor não para, pois
deve continuar em busca de sua posição de equilíbrio.
Evidentemente isso nunca vai acontecer, e
enquanto houver corrente circulando pela bobina o rotor não vai parar.
A velocidade de rotação deste tipo de motor
não depende de nada a não ser da força que o rotor tenha de fazer para girar.
Desta forma, os pequenos motores de corrente contínua têm uma velocidade muito
maior quando giram livremente do que quando girar fazendo algum tipo de esforço
(movimento alguma coisa).
Igualmente, a corrente exigida pelo motor
depende da oposição que o rotor encontra para sua movimentação. Fazendo mais
força, o consumo aumento sensivelmente.
CARACTERÍSTICAS
Dado o princípio de funcionamento, as
características dos pequenos motores admitem certo grau de flexibilidade.
Desta forma, a força que um pequeno motor pode
fazer depende da tensão aplicada à sua bobina a qual vai determinar a corrente
circulante e portanto a intensidade do campo magnético criado, conforme mostra
a figura 7.
Comportamento típico de um pequeno motor de
corrente contínua.
Comportamento típico de um pequeno motor de
corrente contínua.
Pequenos motores são especificados não propriamente
para uma determinada tensão mas sim para uma certa faixa de tensões,
normalmente dando-se o valor médio. Assim, um motor indicado para funcionar com
3V pode, na realidade operar com tensões na faixa de 1,5 a 4,5 V, dependendo da
força desejada.
Da mesma forma, a velocidade depende da força
que ele vai fazer e os fabricantes indicam faixas de rotação ou então uma certa
rotação associada a uma tensão e a uma corrente que, por sua vez, vai
determinar a força que ele pode fazer.
Nas aplicações mais críticas, como por exemplo
dispositivos que devem ser mantidos numa velocidade constante (toca-fitas,
videocassetes, etc.) os motores devem ter recursos que permitam fazer uma
regulagem.
Uma possibilidade consiste no uso de um
circuito sensor de corrente, conforme mostra a figura 8.
O controle de velocidade aumenta a tensão,
quando a velocidade cai.
O controle de velocidade aumenta a tensão,
quando a velocidade cai.
Este circuito pode manter a velocidade mais ou
menos constante detectando as variações da intensidade da corrente na bobina já
que, conforme vimos, elas são determinadas pela velocidade e pelo esforço.
Quando a velocidade vai, em vista de um esforço maior, a corrente tende a
aumentar. Fornecendo uma corrente maior o motor recupera sua velocidade.
Alguns motores usados em aplicações mais
críticos possuem uma bobina denominada "tacômetro", conforme mostra a
figura 9.
Um motor com diversas bobinas, sendo uma com
sensor para controlar a velocidade.
Um motor com diversas bobinas, sendo uma com
sensor para controlar a velocidade.
Por este bobina é possível "sentir"
a velocidade do motor e usar o sinal gerado para acionar um dispositivo externo
de controle.
Normalmente, as velocidades de operação dos
pequenos motores são elevadas e para os casos em que necessitados de mais força
e de um movimento mais lento, precisamos contar com recursos para a chamada
redução.
Em toca-discos e toca-fitas é comum o uso de
correias e polias para esta finalidade, conforme mostra a figura 10.
Modo de se fazer uma redução de velocidade de
um motor.
Modo de se fazer uma redução de velocidade de
um motor.
A redução é facilmente calculada bastando para
isso medir o diâmetro do eixo do motor e o diâmetro da polia maior. A relação
entre os dois valores indica a taxa de redução e portanto o fator pelo qual
ficará multiplicado o torque do motor.
Se tivermos um eixo de 2 mm e uma polia de 2
cm de diâmetro, por exemplo, teremos uma taxa de redução de 10 para 1. Isso
significa que a força fica aumentada em 10 vezes e a velocidade fica reduzida
em 10 vezes.
Sistemas mais sofisticados incluem o uso de
engrenagens como por exemplo a caixa de redução mostrada na figura 11 e que é
indicada para projetos de robótica e automação.
Uma caixa de redução com engrenagens.
Uma caixa de redução com engrenagens.
A relação entre os dentes das engrenagens do
eixo do motor e das reduções mostram o que ocorre com a força e a velocidade.
COMO REPARAR
O principal problema encontrado nos pequenos
motores está no desgaste das lâminas do comutador ou no seu afrouxamento. Em
muitos casos elas são feitas de cobre e com isso se desgastam com facilidade ou
ainda perdem a pressão sobre o rotor afetando com isso a passagem da corrente.
O motor pode falhar ou não partir em determinadas posições.
A reparação, em muitos casos, pode ser feita
pressionando-se as lâminas de volta nos contactos ou ainda, para quem tiver
mais habilidade fazendo sua troca. Pode ser aproveitada uma lâmina boa de um
motor igual fora de uso.
A limpeza das lâminas também pode ser
necessária nos casos em que um motor muito tempo fora de uso tenha acumulado
uma capa de óxido nestes contactos. Um spray limpador pode ser interessante
nestes casos.
Outro problema é a continuidade das bobinas. A
continuidade, que pode ser medida pelo multímetro conforme mostra a figura 12,
pode apresentar problemas com a interrupção das bobinas ou separação dos
contactos dos comutadores.
Verificando a continuidade de um motor.
Verificando a continuidade de um motor.
Uma interrupção de bobina causa a parada do
motor. Se formos enrolar novamente um pequeno motor deveremos usar o mesmo
número de voltas de fio de mesma espessura que o original.
Uma operação do motor com sobrecarga pode
causar a queima do enrolamento, o que vai ser caracterizado pelo cheiro de
queimado e pela cor escura do fio esmaltado.
Neste caso, bem sempre a reparação de um motor
é compensadora. Pode sair muito mais barato e ainda mais rápido fazer a troca
por um motor novo.
É comum também que os fios dos terminais
escapem, interrompendo a circulação da corrente. Neste caso a reparação é mais
simples bastando usar a solda.
Lubrificação dos mancais do eixo é também
importante para que o motor gire livremente reduzindo o ruído.
Algumas aplicações exigem a ligação em
paralelo com a bobina do motor um capacitor, conforme mostra a figura 13.
Capacitor para eliminar ruídos gerados pelo
motor.
Capacitor para eliminar ruídos gerados pelo
motor.
Este capacitor tem por finalidade absorver os transientes
gerados pela comutação rápida do motor. Estes transientes ou pulsos de tensão
são causa de interferências principalmente em circuitos de rádios e
amplificadores e devem ser eliminados.
Se o capacitor estiver aberto ele não impede
que ruídos apareçam quando o rádio está ligado e o motor girando (num gravador,
por exemplo).
A troca do capacitor é a solução para o
problema.
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